Em Julho de 2008, eu desembarcava em NY com 2 malas gigantes, um visto de trabalho, e aquele frio na barriga de quem se muda sozinha, pela primeira vez na vida, pra um outro país.
Aconteceu tanta coisa (tão importante) nesse tempo, que não parece que faz só 5 anos e meio.
Resolvi parar e fazer um balanço. Aí o balanço virou uma lista, que virou esse post.
“5 coisas que eu aprendi em 5 anos nos Estados Unidos”
1. Qualidade de vida tem muito a ver com viver sem medo de violência.
Eu sei que é óbvio, mas, tendo morado minha vida toda em São Paulo, já tinha me acostumado a estar sempre naquele estado de alerta, a nunca andar com os vidros do carro abertos, a não usar jóias, a não deixar nada de valor exposto, a evitar andar sozinha à noite, aquela neura paulistana. Tudo isso era normal pra mim e, pra falar a verdade, eu nem me dava conta do quanto tudo isso era estressante. Era o meu “normal”. Aí me mudei pra Nova York. No começo, ainda andava desconfiada, olhando pra trás, porque demora a cair a ficha de que dá pra viver com mais segurança. Mas também, quando a ficha cai, o difícil é aceitar viver de outro jeito. Não que aqui não tenha crime. Tem. Mas é num outro nível. E o que acontece é que, aos poucos, a gente vai relaxando, vai mudando o modus-operandi (e o estado de espírito), e descobre o quanto se ganha em qualidade de vida quando você se sente seguro.
Quando dá saudade do Brasil (sempre) e a gente pensa em voltar (às vezes), esse é o maior motivo que me faz desistir. Meu filho tem só 2 anos, a vida toda pela frente, e enquanto eu puder escolher, não quero que ele tenha que aprender a viver no stress de uma cidade perigosa – muito menos, que ache isso normal.
PS.1: Moramos também em Miami e em Atlanta, que são cidades totalmente diferentes de NY (e diferentes entre si), mas que também oferecem essa sensação de segurança pra quem mora por lá, coisa que muitas cidades pequenas do interior do Brasil já não oferecem mais. Triste.
PS.2: NY já foi uma das cidades mais violentas do mundo. E nem faz tanto tempo assim. Esse texto tem um bom resumo do que foi feito nas últimas décadas pra reverter essa situação.
PS.3: No meu primeiro ano em NY, meu apartamento foi invadido. Aliás, meu escritório também. Por ratos! Este sim um problema que Nova York ainda não conseguiu resolver.
2. Pontualidade é sinal de respeito.
Simples assim.
Eu, que sempre fui atrasada, aprendi.
É simples mesmo. Reunião marcada pras 10:30 começa às 10:30. Aliás, também termina na hora marcada. Não importa se você é muito ocupado, muito importante, muito o-que-quer-que-seja, seja pontual.
E isso não vale só no trabalho, vale pra qualquer compromisso social. Happy hour, festa de criança, jantar com amigos…
Nos primeiros meses aqui, achava engraçado quando alguém me avisava que chegaria atrasado “uns 5 minutos”. E ainda se desculpava. 5 minutos de atraso, no Brasil, é chegar na hora, eu pensava. Hoje, não acho mais graça, acho sinal de educação. Taí uma coisa que eu aprendi com os americanos: Be on time. Pontualidade é sinal de respeito.
3. Nosso famoso “jeitinho brasileiro” sucks.
No Brasil, eu já escapei de tomar multa porque o guarda foi com a minha cara, já consegui mais prazo pra entregar trabalho na escola conversando “com jeito” com o professor, já menti idade pra entrar na balada, já tive carteira de estudante fake. Não estou me gabando, pelo contrário, mas essas coisas ilustram uma verdade brasileira: a gente sempre acha que dá pra dar um jeitinho, e nem percebe o quão nocivo isso é.
Nos Estados Unidos não rola. No geral, o americano segue a regra, é “by the book”. Essa falta de flexibilidade pode ser irritante, mas é melhor que seja assim, porque a regra vale, e é igual pra todo mundo. Você sabe o que esperar, é mais justo.
O jeitinho faz parte da cultura do Brasil e, às vezes, a gente até se orgulha disso. Somos flexíveis e criativos. O problema é que o jeitinho anda de mãos dadas com a malandragem, com a esperteza de levar vantagem em tudo, que, aliás, é a semente da corrupção e da impunidade, né?
Morar nos Estados Unidos me deu ainda mais certeza de que o nosso jeitinho brasileiro não tem nada de cool e nada de inofensivo. Hoje, sou bem mais a “falta de jeito” americana.
4. Quer casa, comida, e roupa lavada? Do it yourself.
Em São Paulo, eu tinha uma vida com luxos que nunca vou ter aqui. Tinha uma ajudante faz-tudo que me dava casa limpa, roupa lavada e passada, cama perfeitamente arrumada, e mais qualquer coisa que eu precisasse. Todo-santo-dia.
Aqui, esse tipo de serviço é bem caro, um luxo mesmo. Então, fazer o que, a gente mesmo se vira e põe a mão na massa pra deixar tudo (mais ou menos) em ordem. Ou seja, além da meta de “inbox zero”, a gente também tem meta de “louça zero” e “laundry zero” aqui em casa, rs.
Recentemente, vários amigos postaram esse texto que fala da relação direta entre lavar o próprio banheiro e poder abrir um laptop no ônibus. Eu nem concordo tanto assim que desigualdade social seja a única razão da violência no Brasil (vide NY, segura, apesar de desigual), mas tenho que admitir que “lavar meu banheiro”, de alguma forma, me tornou uma pessoa melhor.
Eu nunca tinha precisado ser tão “dona-de-casa” e fazer tantas coisas sem ajuda como aqui. Obviamente sinto falta da minha super-ajudante, mas, parando pra pensar, morar nos EUA me deu uma perspectiva de vida diferente, me fez perder algumas frescuras, me tornou mais prática, mais simples, mais resolvida e mais independente. E isso é bom.
5. Posso morar pra sempre nos Estados Unidos, mas o Brasil nunca vai deixar de ser minha casa.
Eu gosto de morar nos Estados Unidos, mas longe de só enxergar coisas boas e achar que tudo é melhor aqui. Sinto falta do atendimento médico mais humano do Brasil, acho a cultura exagerada do politicamente-correto daqui um saco, não acho muita graça do humor americano, preferiria um lugar sem risco de furacões e terremotos, e que não fosse alvo de terroristas.
Mas tudo isso faz parte da experiência de morar aqui. A gente aprende e cresce com as coisas boas e ruins.
Duro mesmo é conviver com a distância da família e dos amigos, não estar lá pra dar abraços de aniversário, não estar lá pra dar colo quando alguém precisa, enfim, não estar lá sempre que eu queria estar. Essa é a parte mais difícil. Porque eu vim pra cá “velha”, com 30 anos, quando as principais relações da minha vida já estavam formadas, e com 3 décadas de formação cultural/política/social vividas no Brasil. Ou seja, tenho referências e valores diferentes dos americanos e acho que isso, muito mais do que a diferença de idioma, faz com que eu sempre me sinta uma estrangeira aqui. Não significa que não me sinta bem ou que sofra preconceito, pelo contrário. Mas, por outro lado, acho que São Paulo (e o Brasil), com todos os seus problemas, vai ter sempre esse efeito em mim – o de me fazer me sentir em casa.
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